Gastrite: O Que Pode Estar Por Trás da Queimação no Estômago?
Aquela queimação que começa leve e vai crescendo até parecer que o estômago está pegando fogo. Quem já sentiu, sabe: é uma sensação incômoda, que pode vir acompanhada de dor, náusea, inchaço e até perda de apetite. Estamos falando dela, a gastrite, uma velha conhecida de muitos brasileiros — e uma das causas mais comuns de queixas digestivas nos consultórios médicos.
Mas o que realmente está por trás da gastrite? Por que ela aparece? E por que, mesmo com tantos medicamentos disponíveis, ainda é um problema persistente na vida de tanta gente? A resposta passa por uma mistura complexa de alimentação, estresse, uso de medicamentos e até infecções bacterianas. E é exatamente isso que vamos explorar neste artigo.
O que é gastrite, afinal?
Gastrite é a inflamação da mucosa do estômago — uma espécie de “revestimento interno” que protege o órgão contra os ácidos digestivos. Quando essa camada se irrita ou se enfraquece, o ácido estomacal entra em contato com a parede do estômago, gerando dor, ardência e desconforto.
Ela pode ser aguda, quando aparece de repente e dura pouco tempo, ou crônica, quando se arrasta por semanas, meses ou até anos, muitas vezes com sintomas mais leves, mas contínuos.
Queimação no estômago: sintoma clássico (mas não único)
A famosa azia ou queimação é o sintoma mais conhecido, mas a gastrite pode se manifestar de várias formas, como:
- Dor ou desconforto na parte superior do abdômen (aquela região logo abaixo das costelas)
- Sensação de estômago cheio logo após comer pouco
- Náusea ou enjoo frequente
- Arrotos constantes
- Inchaço abdominal
- Perda de apetite
- Em casos mais graves, vômito com sangue ou fezes escurecidas
É importante dizer que muitas pessoas têm gastrite sem sentir absolutamente nada. Às vezes, ela é descoberta por acaso, durante uma endoscopia feita por outro motivo.
Principais causas da gastrite
1. Infecção por Helicobacter pylori
Essa bactéria com nome complicado — H. pylori, para os íntimos — é uma das principais vilãs da gastrite crônica. Ela consegue viver no ambiente ácido do estômago e, com o tempo, enfraquece a mucosa protetora, favorecendo a inflamação.
A infecção por H. pylori é muito comum, principalmente em países em desenvolvimento. Muitas pessoas são contaminadas ainda na infância, por meio da água ou alimentos, e podem passar anos sem saber que estão com a bactéria.
2. Uso excessivo de anti-inflamatórios
Remédios como ibuprofeno, diclofenaco e outros anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) são amplamente usados para dores em geral. Mas o uso frequente ou prolongado pode irritar a mucosa do estômago, levando à gastrite. É por isso que muitos médicos orientam tomar esse tipo de medicamento sempre após as refeições e por tempo limitado.
3. Estresse e ansiedade
Sim, emoções também afetam o estômago — e muito. O famoso “nó no estômago” tem base fisiológica. Em situações de estresse, o organismo libera hormônios que aumentam a produção de ácido gástrico. Além disso, a tensão muscular pode afetar o sistema digestivo, contribuindo para a irritação gástrica.
Há quem desenvolva gastrite funcional (ou dispepsia funcional), em que os sintomas são reais, mas não há uma inflamação visível na endoscopia. Em muitos desses casos, o fator emocional está profundamente envolvido.
4. Alimentação desequilibrada
Alimentos muito condimentados, gordurosos, frituras, cafeína em excesso, bebidas alcoólicas e refrigerantes estão entre os principais “gatilhos” para crises de gastrite. Não necessariamente causam a doença sozinhos, mas pioram bastante os sintomas, especialmente se consumidos com frequência.
A ingestão irregular de alimentos — como pular refeições ou comer em grandes quantidades de uma vez só — também contribui para o desequilíbrio do estômago.
5. Tabagismo
Fumar enfraquece a barreira mucosa do estômago, reduz a produção de bicarbonato (que neutraliza o ácido gástrico) e favorece a proliferação da H. pylori. O cigarro também atrapalha a cicatrização de lesões, tornando a gastrite mais difícil de tratar.
Gastrite emocional: mito ou realidade?
A chamada gastrite nervosa é um termo popular para descrever os sintomas gástricos que surgem em momentos de estresse, ansiedade ou tensão emocional. Embora nem sempre haja uma inflamação real do estômago, os sintomas são tão intensos quanto os da gastrite tradicional: queimação, dor, náusea, azia e perda de apetite.
Na verdade, corpo e mente estão tão conectados que os nervos do sistema digestivo se comunicam diretamente com o cérebro — tanto que o trato gastrointestinal é conhecido como “segundo cérebro”. Em alguns casos, o tratamento da gastrite precisa incluir cuidados com a saúde mental, como psicoterapia ou até medicação psiquiátrica.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da gastrite depende de uma boa conversa com o médico, exame físico e, muitas vezes, a realização de uma endoscopia digestiva alta — um exame que permite visualizar o interior do estômago por meio de uma câmera acoplada a um tubo fino e flexível.
Durante a endoscopia, o médico pode identificar se há inflamação, erosões, úlceras ou mesmo sinais da H. pylori, por meio de uma biópsia.
Além da endoscopia, exames de sangue, fezes e até testes respiratórios podem ser usados para detectar a presença da H. pylori.
E o tratamento, como funciona?
O tratamento da gastrite depende da causa:
- Se for por H. pylori: é necessário fazer um tratamento com antibióticos e inibidores de ácido gástrico, geralmente por 7 a 14 dias.
- Se for por uso de anti-inflamatórios: o ideal é suspender o medicamento e iniciar protetores gástricos (como omeprazol, pantoprazol ou similares).
- Se for emocional: além dos medicamentos para proteger o estômago, pode ser necessário acompanhamento psicológico ou psiquiátrico.
- Se estiver ligada à alimentação: mudar os hábitos alimentares é essencial, evitando os alimentos irritantes e mantendo uma rotina mais equilibrada.
O mais importante é não se automedicar. Muitos remédios vendidos sem receita aliviam a dor momentaneamente, mas não tratam a causa. Em alguns casos, o uso prolongado de antiácidos pode até mascarar doenças mais sérias, como úlceras ou até câncer gástrico.
Pequenas mudanças que fazem grande diferença
Além do tratamento médico, algumas atitudes do dia a dia ajudam muito a controlar a gastrite e evitar novas crises:
- Coma em horários regulares, sem pular refeições.
- Prefira refeições leves, bem mastigadas e em pequenas porções.
- Evite frituras, molhos pesados, embutidos e alimentos ultra processados.
- Reduza o consumo de café, refrigerantes e álcool.
- Não deite logo após comer — espere pelo menos 2 horas.
- Se possível, faça pequenas caminhadas após as refeições.
- Pratique atividades que aliviam o estresse, como ioga, meditação ou exercícios físicos.
- E, claro: se os sintomas persistirem, procure orientação médica.